segunda-feira, 26 de julho de 2010

nOS cINEMAS*

Diretor Rafael Saar fala sobre o documentário Baby, do Brasil ou Apocalipse

Por Cristiano Bastos

Em fase de produção, o longa-metragem Baby, do Brasil ou Apocalipse (veja o teaser exclusivo), dirigido por Rafael Saar, tem previsão de lançamento para 2012. A partir do universo artístico da cantora Baby do Brasil, o documentário enfocará a busca artístico-espiritual da cantora, a qual, a propósito, atuou em muitas produções.
Entre as quais, nos filmes O Cangaceiro (Brasil/Itália, 1970, dir. Giovanni Fago) e Caveira My Friend (Brasil, 1970, dir. Álvaro Guimarães). Ambos filmados em Salvador, no cenário pós-tropicalista, os filmes introduzem Baby no cinema marginal baiano.
Em Baby, do Brasil ou Apocalipse, adianta Rafael Saar, serão feitas "viagens-chave" a lugares que representaram um ponto de mudança na vida da nova baiana.
"Vamos refazer parte do Caminho de Santiago de Compostela, voltar ao sítio Cantinho do Vovô e ao apartamento em Botafogo", conta o diretor. A diversão, contudo, estará assegurada com impagáveis cenas de Baby no auge de sua fase "new wave/pré-gospel".
Canções de louvor como "Minha Oração" (1980). "Cósmica" (1982), "Telúrica" (1981) e "Poderoso Deus" (2010), garante Baby, sempre estiveram em sua obra. Confira abaixo um trecho do filme e, em seguida, entrevista com o diretor:
No filme, como você separou, abordou a Baby esotérica de sempre da evangélica de hoje?
Saar - O filme tem como abordagem central, além do resgate da trajetória artística de Baby, a relação estreita que ela assumiu entre espiritualidade e música. De "No fim do juízo", passando por "Cósmica", "Telúrica" e a popstora Baby, vemos uma busca incessante de uma artista que acredita na música como caminho direto de ligação com Deus. Além disso, a desconstrução do perfil do evangélico de hoje e da música gospel, que no Brasil ainda não é tratada como arte.
Fale sobre a experiência da Baby com cinema no período NB e pré-NB. E, também, sobre as incursões audiovisuais dela nos anos 80 em diante.
Saar - Baby é uma figura cinemtográfica, uma Barbarella brasileira. Começou no cinema ainda Bernadete, em sua adolescência no Rio de Janeiro, antes de ir para Salvador. Fez um curta-metragem inacabado, e indo para a Bahia fez um papel místico no filme O Cangaceiro e o incrível Caveira My Friend. Neste último, além de atuar como a namorada do Caveira, Baby participa da trilha sonora, e é de uma personagem deste filme que Bernadete vai "roubar" o nome para si: Baby Consuelo. Nos Novos Baianos fez a Eva em Genesis 2000, ao lado do Adão Caetano Veloso e bem mais tarde, em 2005, um curta-metragem com Andrucha Waddington.
O que lhe fascinou em Baby para fazer um doc sobre ela?
Saar - Minha fascinação com Baby veio na infância, nos anos 80, quando ela teve uma carreira infantil forte, participando de musicais como Pirlimpimpim, A turma do Balão Mágico. Mais tarde pude conhecer todos os discos tanto da carreira solo, quanto dos Novos Baianos, e vi uma cantora versátil, com uma extensão vocal e uma musicalidade impressionantes, e ao mesmo uma imagem extremamente explorada e limitada de uma artista louca que acaba apagando a importância, ousadia e pioneirismo que Baby teve e tem na música brasileira. Fazer um documentário sobre ela é importante no sentido de desconstruir essa imagem, fazendo um resgate de arquivos que não estão disponíveis (Baby não tem nenhum DVD lançado e poucos CDs são encontrados à venda).
Como as divas da Baby são mostradas no filme?
Saar - Todas as referências artísticas de Baby estarão no filme. Com Elza Soares e Ademilde Fonseca, duas das principais influências - do cantar rouco e acelerado - gravamos um show em São Paulo, e passaremos por Caetano, Janis Joplin, Gal Costa, e cantoras como Marisa Monte - que é uma das crias de Baby - que estarão presentes seja no repertório das músicas que Baby cantará ou fisicamente.
*A foto que ilustra o post é do espetáculo Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal, 1969. Primórdios soteropolitanos dos Novos Baianos.

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