terça-feira, 24 de março de 2009

pAÊBIRÚ (PARTE 3)



POR LULA CÔRTES

Corri ate lá, e descendo uma pequena elevação dei com o inesperado: uma imensa pedra medindo uns 15 a 20 metros de comprimento com a forma de um lagarto imenso e sua barriga era totalmente bordada pelos fungos antiqüíssimos e pelas escritas estranhas, imagens humanas e espirais desenhadas em relevo forte.

Êxtase.

A cabeça rodava sobre o pescoço e os olhos não sabiam ainda o que fitar. Entramos num templo, era a única coisa que sabíamos ao certo. Na areia quente, fosseis de búzios do mar, toda aquela área fora um mar antigo, a água cantava, as cigarras e os pássaros invisíveis, eram como sereias.

Nenhuma nuvem, e no rosto da terra os mesmos mapas dos rostos dos homens que havíamos encontrado em BACAMARTE.

A pedra brilhava e hipnotizava os lagartos pequenos. Estes correndo dada a quentura do chão, caiam em buracos espiralados e lisos, cavados pelas águas através dos anos, dali não podendo mais sair.

Suas pequenas garras não aderem à superfície lisa e quase mármore da Pedra Polida. As cobras têem as suas presas quando cai o sol. Sentamos a beira d'água. Os sapos entoavam um canto como o som do OMM.

Os troncos gemiam com vento que era mais forte. Uma música estranha se formava com os carros-de-boi gemendo distante, como um misto de festa e de incelença, como lamento e festejo do uno vital.

Harpa dos ares, e o mundo era um feixe de afinadíssimas cordas de cobre brilhante, e essas cordas loucas, e os gemidos seus se entrelaçavam nos galhos dos arvoredos tortos se misturando no verde do juazeiro novo e entre as bages secas e as sementes duras e vermelhas do mulungú sozinho.

AXÉ-CAÔ.

E as lâminas das pedreiras brilhantes eram como as tarrachas dessa afinação natural. O lagarto imenso coxilava e sua boca tocava um poço no lajedo levemente.

Ele bebia.

Com o tempo passando e os dedos nervosos como se tocassem, apalpávamos a pedra, enquanto com pequenos cacos de um coité quebrado, jogávamos água no dorso do templo ou nos altares do réptil.

Jogávamos água com avidez e os símbolos pulsavam e se moviam, cresciam e respiravam. O calor da pedra transformava em ar a umidade e um cheiro estranho emanava dessa fumaça, como se saindo dos fungos cinza-esverdeados.

Os fungos grandes eram como escamas e se estendiam em todo o corpo do animal. Às vezes sentados numa pequena sombra de uma rachadura, parecíamos assustados trogloditas, raquíticos e indefesos.

E aquele imenso sáurio nos olhava e era manso e pleno. Ali seria um templo da fertilidade?

O vento trazia as sementes da Paina, voando em seus veículos de seda de algodão quase cristalino, e os levava passeando ante as cavernas dos nossos olhos acesos.

Na barriga do templo-animal outro calango menor se achava gravado. Medindo uns três palmos. Outro símbolo redondo e com uma cruz, muito se assemelhava a um gameta feminino.

Órion regendo a terra-mãe.

E formas como um homem e uma mulher de cabeça para baixo, como se deitados talvez, o milho, as frutas encravadas, e ainda um símbolo incrível que multo nos fazia crer em toda essa loucura verdadeira.

Uma maçã e uma serpente.

O vento cantava entre as horas do mundo. E elas se passavam vagas e acústicas, lerdas e infladas, sopradas como as nuvens, raras e brancas. Os quatro elementos juntos formavam como um só corpo.

De homem e de mulher composto em formas indefinidas, e esse corpo fecundo, se alastrava no vento, se derretia no tempo, se demonstrava no mundo. Fetos dentro da água éramos no leito do rio.

E pássaros sobre o juízo éramos pensando muito.

Que caminho maravilhoso se estendia como sendo o rio, que branco e cristalino se move. Havíamos achado uma pirâmide anterior às Aztecas ou Incas?

A imagem da montanha com arestas quase triangulares do município de Bacamarte nos invadia e nos fazia crer estarmos em terras de um antigo reino ou civilização.

Será que a localização dessa montanha formaria um triângulo eqüilátero com as pirâmides do México e do Egito? A vontade que nos afligia agora, era de cavarmos com as próprias mãos o sopé da montanha piramidal.

Continua...

Arquivo do blog

Who's Next?