sexta-feira, 20 de março de 2009

pAÊBIRÚ (pARTE 2)


POR LULA CÔRTES

Comemos alguns cogumelos secos que encontramos. Não tínhamos água e uma forte emoção pairava sobre tudo. Um forte silêncio enchia a claridade, e dali por diante seriam as pedras, os lagartos, as cobras e as urtigas.

E como são elétricas as urtigas.

A informação parecia estar correta. Achamos o regato e acompanhamos o sentido do seu caminho. A água era clara e bastante salgada. E entre as rochas de formações vulcânicas, escorrendo leve e fria, ela descia conosco e nos refrescava o rosto e a boca, seca e sem saliva.

A irrealidade se apossava cada vez mais dos nossos corpos e de nossas mentes, e toda a lenda que nos havia enchido os ouvidos até aquele dia parecia florar em tudo.

Nas sombras raras onde descansávamos, nos maribondos e nas borboletas, e na nossa pele que se avermelhava ou se coloria com os primeiros símbolos que encontramos, claros e bem gastos dentro de uma loca.

Começamos a andar melhor sobre as pedras. Já sem os sapatos, éramos como os índios, e a medida que nos compenetrávamos disso, sabíamos mais onde procurar os escritos. E achamos vários.

Muitos quase findos. A água secular levou consigo muitos dos seus relevos e segredos. Éramos como os índios? Ou estranhos seres primitivos ou sem idade?

E como loucos assim achamos estrelas de um relevo mais forte.

Como pequenos sóis, elas estão talhadas na rocha de ferro vulcânico. Como se cunhadas por estranhos raios ou ainda gravadas por enormes homens.

Com um papel na mão subi a uma pedra que se punha ao lado da estranha constelação, e constatei que se assemelhava muito a Órion, constelação esta que nos escritos dos mapas estrelares dos astrólogos, regem os signos ligados à Terra.

Antes mesmo que falássemos das nossas assustadas conclusões, os olhos eram novamente surpreendidos.

Estávamos em pleno templo e olhávamos em volta felizes. Zé (Ramalho) foi andando como quem voa e encostou o rosto na pedra quente, e me chamava dizendo:

"É aqui, a pedra está VIVA!".




Continua...

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