domingo, 7 de novembro de 2010

eDITORIAL

Nelson Gonçalves era um homem sem medo. Fazia questão de proclamar seu desassombro, como convém ao gaúcho de Livramento. Mas tinha, claro, suas preocupações – e um pensamento que o afligia era o de cair no esquecimento.

O gago boxeador que esmurrou o destino e se tornou um dos maiores cantores do Brasil transformou esta melancolia em uma destas frases que entram para a história. "O Brasil é um país sem memória", cuspiu Nelson. "Alguém se lembra de Francisco Alves?".

Pois não é que o Brasil achou o jeito mais canhestro de dar razão ao velho Nelson? 2008 chegou ao fim e o que você, caro leitor, viu ou ouviu sobre os dez anos da morte do último boêmio? Quem se apercebeu do que define como "vergonha nacional" foi o repórter Cristiano Bastos, que assina a reportagem de capa desta edição.

"Quando me dei conta desta barbaridade, o deadline era de dois meses. Eu tinha, porém, que, antes, conhecer a caudalosa vida e obra do Metralha, achar sua filha Marilene, no Rio, os amigos cantores ainda vivos – poucos – e conhecer seu inigualável e divertido fabulário", lembra Cristiano.

Não era sem motivo, portanto, a amargura antecipada que Nelson sentia quando anunciou sua vontade: "Quero ser cremado. Uma semana depois de morto, estarão fazendo xixi sobre a minha tumba".

"Não se preocupe, Metralha", anota Cristiano ao pé da matéria. "Demos uma boa limpada em sua lápide. Esperamos que você goste do que a gente escreveu, aí no céu dos boêmios!"

Boa leitura,
Eugênio Esber

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