domingo, 30 de novembro de 2008

pÚBLICA: o fILME sEMPRE a rODAR*

POR CRISTIANO BASTOS

(...) Naquela noite
de 2001, Metz nos contara que tinha uma banda - só que não demos muita bola, a real é essa.

Afinal, encapotado em seu traje britpoper, no gelado saguão da Faculdade, segurando seu caderno, Pedro ainda era um piá (a little boy...). A instituição Pública, contudo, já existia.

Tal qual o conceito da banda, as nítidas influências - a poesia, o mote, a pulsão sonora, as canções. Com a popularidade do livro Gauleses Irredutíveis, passamos a organizar na cidade (de Porto Alegre) as Segundas Irredutíveis, espécie de happening roqueiro que acontecia mensalmente no bar Dr. Jekyll.

A Pública praticamente estreou lá.

Pelo que me lembro (ou não lembro), nessa época, tinham outra formação. Claro que, atualmente, a banda está melhor anos-luz. Esse detalhe eu já tinha percebido em 2007, quando fui cobrir o festival Bananada, em Goiânia, pela revista Bizz. A Pública apresentou um dos melhores shows.

O disco Polaris, de 2006, já apontava os claros horizontes sonoros que tomariam a seguir. Em 2008, Como Num Filme Sem Um Fim, eu diria, comprova - não exatamente - a evolução da banda. Melhor ainda, confidencia o "tanto", o "quanto" e "como" amadureceram. Um amadurecimento estético, sobretudo.

Amadurecer é o pressuposto mor, sem o qual qualquer banda do mundo está fadada à bancarrota mercadológica. Seja no mainstream, no underground ou no... "mainstream do underground". Até os Ramones sofreram mudanças formais, quando foram produzidos por Phill Spector.

O produtor manteve os punks reféns no estúdio com uma arma apontada para suas cabeças durante sessões de gravação. O resultado, no entanto (o que importa, no fim das contas), saiu diferente de tudo que algum um dia, em seus devaneios pop, Joe tenha sonhado conceber.

Amadurecimento à parte, as "influências de coração" não mudaram na Pública: Stone Roses, John Lennon, The Cure, David Bowie, Supergrass. Pelo contrário, elas se fortaleceram. E ainda tem muitas outras sonoridades na jogada. São amores musicais que não dão para esquecer. E, sim, os compositores locais: Nei Lisboa & Júpiter, que a Pública admira.

Como Num Filme Sem Um Fim é cheio de nuances instrumentais caprichadas e amplificadas pela produção em estúdio do técnico Marcelo Fruet. Algumas músicas foram abrilhantadas por participações especiais. É o caso de "Canção de Exílio", um dos pontos altos do disco, com a guitarra micro sinthetizer de Gabriel Guedes (Pata de Elefante).

A seqüência de abertura, que inicia com "Quarto das Armas", "1996", "Canção de Exílio", "Casa Abandonada" e "Vozes", empolga e contagia. São músicas que têm o poder de tomar os ouvidos de assalto, embora o mais justo é que viessem a invadir as rádios brasileiras com suas melodias pop.

"Sessão da Tarde" é um vaudeville ensolarado, no melhor estilo dos Kinks. Combina com Porto Alegre, aliás. A referência sixitie-mod prova que a linha do horizonte da Pública não é guiada apenas pelo presente - afinal, os simulacros do presente podem ser tão enfadonhos quanto os simulacros do passado, se mal interpretados ou, pior, apenas imitados...

A Pública também ataca nas baladas, óbvio (um forte deles), e exibe, sem ser blasé, a notável envergadura instrumental dos seus integrantes - bem acima duma média que anda por aí a nos constranger os ouvidos e a paciência, por sinal.

Dia desses, comentava com um grande amigo, cuja opinião muito levo em consideração, que uma das coisas que mais tinha chamado a minha atenção em Como Num Filme Sem Um Fim era a maneira como fora gravado: distanciando-se ao máximo do método de gravação que eu e ele denominamos de "massa corrida".

O método ainda é adotado por muitos toscos aventureiros em estúdio, em pleno esplendor do século 21.

"Massa corrida": método no qual produtor e banda entram em estúdio e registram as canções diretamente, praticamente ao vivo, sem direcionamento algum no sentido de, conscientemente, estruturar uma engenharia de gravação e produção.

Um dos produtores que melhor conseguiu fazer bons álbuns desse jeito foi Chas Chandler, com o Slade. Mas o Slade era o Slade. E é bom lembrar que com Jimi Hendrix, que ele também produziu, a metodologia escolhida não foi o da "massa corrida"...

E, de qualquer modo, Chas está morto mesmo.

Vida longa à Pública - sucesso para Como Num Filme Sem Um Fim!

*Aqui, ó

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