quarta-feira, 6 de agosto de 2008

pREPÚCIOS tEXTICULARES*

NIKI
Manda outro, ele disse.

Escrevi assim, cheio de graça, e ela retornou um hehehe dos dela, que é sempre huauhuiau. O carinha dos produtos naturais Niki Lauda, grudado na parede do meu quarto, me olhou com uma cara feia daquelas. Eu tava me sentindo o nerd que eu tinha virado.

Me virei pro amigo que tinha dito pra mandar outro e propus que saíssemos, que nos embebedássemos e que fizéssemos merdas na rua. Ele riu, topando. A mesma coisa de sempre: ou isso ou a tela do computador com pequenas propriedades alteradas (um papel de parede, de repente).

Na rua, quando estou bêbado ao menos, não vejo o carinha dos produtos niki lauda. Mesmo que ele apareça eu não o vejo.

Saí, sem dar tchau, sem mandar bjs, sem emticon nenhum. Cerveja adentro, noite afora. Um espiral de diversões baratas me esperava. Mais e mais conversas fúteis, mais nomes novos que pouco significarão para mim no dia seguinte, uma série de novos sorrisos falsos para a minha memória fotográfica arquivar. Saí sabendo que voltaria, com os bolsos cheios de papéizinhos divulgando shows ou festas, talvez um telefone ou dois, e com a dúvida do "afinal, por que?!", mas com a certeza de que esqueceria na primeira cerveja.

MARGÔ

- Quanta fome, Margô!
- Desculpa! Me esqueço dos modos e começo a comer como uma esbaforida.
- Não se importe! Dá gosto de ver!
- Eu estava mesmo louca de fome!
- Onde andavas?
- Eu fiquei 42 dias numa fila de banco!
- Nossa! Uma vez, em 98, naquela época em que a gente sempre levava umas notas de cinquenta a mais na carteira, por causa da possibilidade de encontrar um cara certo pra levar naquele motel que a gente sempre queria ir - mas que só podia se fosse com o cara certo, lembra?! - aquele na General Galácio, passando a Fagundes Tort, uma quadra depois do Master Sports, onde os guris jogavam bola, lembra?! Então, em 98, quando tava naquele fica-não-fica com o Marcinho, mas já tava começando a suspeitar do lance dele com o Adílsson, eu fui naquele bar que tinha na Limeira Pedroso, que todo mundo ia, o Madeleine, que a Renata era promoter - urgh! - e eu peguei um cara, um carinha lá, Marcos Pantarra, nunca mais vi na vida - ele era daquela agência que o Paulinho Arco-Íris atendia lá na gráfica, a Macedo-Tirol, que tava tri grandona na época, com a conta de uma empresa telefônica suéca que estava implementando o celular com sinal digital na Bolívia, lembra?! Aí arrastei o tal do Pantarra pro tal do motel - ele também tava de carro, daí resolvemos ir no dele e deixamos o meu no estacionamento do bar -, mas quando chegamos lá tinha uma fila gigante, com muitos e muitos carros. A princípio rimos da situação, mas lá pelas tantas a coisa começou a ficar constrangedor, nós dois ali no carro e a fila absolutamente parada, só aumentando - já deviam ter mais uns oito carros atrás do nosso-, e por causa disso não podíamos dar uma ré ou manobrar o carro. Eu achei que o melhor era relaxar e tentar que aproveitássemos ao máximo aquela situação esquisita, e então me atirei na poltrona no carro, da forma mais sexy e descontraída que podia, esperando que ele entendesse o que podia significar a minha linguagem corporal, mas ele era um analfabeto. Ficou lá reclamando da fila, do mau atendimento, do cara do carro da frente, do cara do carro de trás, de todas a minas ele pôde contabilizar na direção (inclusive contou, e me olhava com uma cara vermelha-fúria dizendo: "oito minas dirigindo! oito minas dirigindo! numa fila com uns 22 carros, em oito deles tem mina dirigindo! só podia dá merda!"), reclamando e reclamando e reclamando. Daí eu peguei no sono. Devo ter relaxado demais... Hehehehe! Deu no que deu! Nunca consegui estrear o tal do motel! Faliu, lembra?! Ou algo do gênero... Rolou numa época a história de que lá sido cativeiro de um seqüestro, mas aí parece que não era, mas quando descobriram que não era já era tarde demais e o filme do motel já tava mais do que queimado, lembra?!

- Pois é! Já eu fiquei 42 dias numa fila de banco. Quando finalmente cheguei no caixa, tinha esquecido do que tinha ido fazer lá. O cara me ofereceu um título de capitalização, pra que eu não perdesse a viagem. Nem fiz o cálculo do rendimento- se valia ou não a pena -, aceitei na hora, para abreviar o embaraço. Ele riu e disse pra eu nem me atucanar, que isso tava sendo comum nestes dias de filas de mais de mÊs. Imaginei que ele risse, na verdade, de satisfeito com o crescimento das vendas de títulos de capitalização para abobados que, como eu, após semanas e semanas na fila, esqueciam pra que diabos tinham entrado nela. Imaginei, chutando um número na minha cabeça, na comissão que ele ganhava com aquelas vendas. Tinha mais é que rir mesmo...

- Foda!
- Muito foda!
- Mas tu tomava ao menos uma água?
- Ahan! Tinha um gurizinho que nos trazia água com gás três vezes ao dia!
- Ahn...
- E em que motel que rolou aquela história do Adílsson, que tu e o Marcinho tinham ido?
- Que história?
- Aquela que tu contou!Que o Adílsson perseguiu vocês e foi até a frente do motel pra ficar
gritando: "Marcinho! Eu te amo! Fica comigo! Tu não gosta dessa mina! Tu gosta é de mim!"...
- Ah, isso foi no Le Gran Buffé...
- Hahahahahaha! Como foi? Ele ficava chorando na janela?
- Hehehehe! Pior que sim! Pior é que a gente tinha pêgo um quarto que dava de fronte pra saída
do motel e ele nos viu entrando...
- Que coisa bizarra!
- Já diria o Zezé: "É o Amor!"

*Carlinhos Carneiro está de volta com sua seção gineco-literária!

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