terça-feira, 1 de julho de 2008

tRABALHO sUJO*

Cristiano Bastos, um dos autores de um dos livros mais legais sobre o pop brasileiro (o ótimo Gauleses Irredutíveis, sobre o rock gaúcho), partiu para uma aventura na outra ponta do país.
Embarcou numa jornada para Pernambuco, para contar a história de um dos discos mais emblemáticos da discografia brasileira, o enigmático Paebirú.
Lançado por Zé Ramalho e Lula Cortes no mítico ano de 1975, o disco talvez seja um dos principais tratados psicodélicos brasileiros.
Longe dos experimentos pop e pueris dos Mutantes ou das releituras retrô puxadas por gente como Jupiter Maçã, Mopho e Supercordas, o disco da dupla afunda pesado num misticismo hippie brabo, auxiliada por expansores de consciência diversos e submete o ouvinte a uma dose cavalar de barulho e lisergia sonora e faz Araçá Azul, de Caetano Veloso, por exemplo, soar tão inofensivo quanto uma sessão de autopsicanálise.
Não bastasse isso, o disco ainda é o vinil mais raro - e portanto, caro - do país. Nem o lendário Louco por Você, que Roberto Carlos fez questão de esconder, é tão valioso. O microdocumentário Procurado Número Um do Brasil, produzido pela potiguar Mudernage, fala um pouco da importância do disco como relíquia.
(...)
O jornalista gaúcho Marcelo Ferla faz uma conexão entre o Rio Grande do Sul e Pernambuco:
"Não é uma tese formal, apenas um brainstorm: RS e PE, que em um momento foram colonizados por europeus, têm muitas semelhanças: uma autonomia artística em relação ao q no Sul se chama 'centro do país' (RJ/SP); são estados historicamente de oposição política, o que é fortemente refletido em sua música (a Insurreição pernambucana é considerada marco no nacionalismo brasileiro/a Guerra dos Farrapos a única que não teve vencedor nem vencidos: deu empate, oficialmente); ambos têm dificuldades de serem ouvidos/compreendidos e precisam criar mercado e mecanismos próprios; têm juventudes migrantes, que precisam sair do Estado em busca de espaço e emprego (mas voltam quando podem); têm músicas regionais próprias muito parecidas (baião e vanerão) e levadas pelo memo instrumento: gaita por um, sanfona pelo outro; acima de tudo, tem uma grande, quase nacionalista, paixão por seu território – só no RS e em PE as torcidas levam bandeiras de seus estados nos estádios de futebol, por exemplo. (Em termos de Brasil, se pensarmos dos estados mais autônomos e que influem nos demais, a Bahia é + universal e africana, MG tão brasileira quanto RJ e SP, uma cidade do mundo); RS e PE são distantes deste universo".
A íntegra está no site do Alexandre Matias, o Trabalho Sujo

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