quarta-feira, 18 de agosto de 2010

pLATO dIVORAK: "nUNCA eSTOU dORMINDO"*

Quais as grandes bandas do rock pra você?
Plato - The Deviants, Love, Byrds, Velvet Underground, Can, King Crimson, MC5, Frank Zappa & The Mothers of Invention, Led Zeppelin, Television, Sonic Youth, The Who, Stranglers, Pink Floyd e Them.
Porque têm sonoridade única, transparecendo raça e talento - tão em falta hoje.
Vai fazer rock até morrer?
Plato - Queria que as pessoas soubessem que nunca estou dormindo. Enquanto a maioria dos mortais prepara a "caminha", eu estou com três tipos de canetas (fina, média e grossa) preparadas para um ataque letrístico.
Psicodelia dá manga pro pano nos anos 2000?
Plato - Se está dando pros Mutantes, por que não vai dar pra mim?! Existem tentáculos que direcionam o artista pros mais livres métodos de criação, portanto, a psicodelia também está incluída.
Senão, não estaria tocando, conhecendo pessoas legais, trocando informações com outros músicos, making love, taking acid, smoking pot e touching chicken girls.
É só vir um grupo lá da Europa cantando temas franceses à la Vive La Fête, e todos já ficam ouriçados, loucos pra invadirem as boates. Que culpa tenho eu? É bem culpa do psychedelic world, coberto de invejas e intriguinhas. Eu, fora!
O selo Krakatoa Records ainda rola?
Plato - Existe, sim senhor! Comecei em 1991 com fitas k7, que estava muito na moda naquela época. Do ano 2000 pra cá, só lanço Cds.
Estou preparando um disco com dois shows acústicos: vai se chamar The Good Memories Bootleg, as minhas apresentações-solo.
As apresentações foram gravados em 1997. Outro lançamento na cartola é a coletânea Translucid Trippers, no qual a Krakatoa une os discos Guru Psychosis, de 2001 , e Saifaiscaflex, de 2004 - e mais 12 inéditas.
O rock psicodélico, o protopunk, o lounge, o bizarrodelic dão as caras na coletânea. A qualidade da gravação é muito boa. Entrem em contato e terão o seu.
Qual foi o personagem mais subestimado do psicodelismo?
Plato - Alexander Skipe Spence, do Moby Grape, que lançou o disco solo OAR, em 1969. Ele chafurdou nas drogas sem saber aonde elas o levariam. Estou lendo sobre Spence no livro The Acid Archives, sobre artistas psicodélicos - de 1964 a 1982.
É fascinante. A história do under do underground.
O imaginário em torno de Plato Divorak é verdade - ou mentira deslavada?
Plato - Muitas são as fofocas que me atingem de forma delicada, mas me fazem viver de forma mais arriscada, como o Roberto Carlos dentro de um helicóptero, não é mesmo?
Mas este imaginário, pra mim, são os degraus da sabedoria que eu mesmo galguei até chegar aqui.
Qual o filme mais doido seus olhos já viram?
Plato - Um que vi nos anos 80: era tão ácido que aparecia uma igreja pegando fogo - um barbudo/cabeludo na cruz, e a gurizada de San Francisco fugindo pelas ruas. Safadeza...
O nome era Busca Alucinada! Fora esse, Easy Rider, Venus In Furs, The Trip, Riot on Sunset Strip, o grande Zabriskie Point .
Diga qual é "o disco" do psicodelismo brasileiro?
Plato - Por Favor, Sucesso, do Liverpool. Foi lançado pela Tapecar, um raro selo gaúcho, em 1969. Me desculpem, mas não existem outros. Os Mutantes eu não cito porque eles faziam música lounge.
E a banda mais bizarra?
Plato - Talvez o Hapshash & The Coloured Coat. Esses caras faziam cartazes em 67, o visual dos caras era meio experience e o disco se chamava Western Flyer, de 68. Se você quiser escutá-lo como uma coisa audível, também pode.
Um panorama de sua carreira...
Plato - Em 88, com os Jaquetas, toquei com Big Mac, o incendiário dos teclados. Depois toquei com Edu K no power trio O.F.F.
A Pére Lachaise surgiu ainda em 88, com os guitarristas Irapa e Eduardo Diaz. Flávio Passos, no baixo, e Sérgio Rodrigues, na bateria. Em 91, entraram o Alemão, na bateria, e o Frank Jorge, na guitarra, pois a Graforréia estava falida na época.
Circulavam pelo grupo "os guitarmen" Vasco Piva e Eduardo Christ. A Lovecraft começou em 94, com Betão na guitarra, Regis Sam no baixo e Gésner Mess, na bateria.
O grupo era muito paparicado por trazer de volta o som dos anos 60. Frank & Plato é de 93, e existe até hoje com o título de Frank Jorge & Plato Divorak e Empresa Pimenta.
Plato Divorak & Os Sha-Zams foi meu primeiro combo solo em 1996. Com o Momento 68, gravei o disco Onde Estão Suas Canções?, em 1999, São Paulo, com Sandrinho Garcia. Depois Plato & Os Analógicos veio em 2004.
De 1996 a 2004, me dediquei quase que integralmente as gravações-solo - uma espécie de "Jovem Guarda de Expansão": muita lisergia, ritmos brasileiros e rock.
E o maior dos clichês psicodélicos, hein?!
Plato - Um deles te digo sem pestanejar: é aquela puxadinha de fumo - tipo assim, aquele magrão com a maconha na boca, olhando pra garota: "vamos?!" A outra são os cabelos, de todos os tipos, que todo mundo quer ter igual.
(?)

*Foto: Fernanda Chemale

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