quarta-feira, 31 de outubro de 2007

1001 dISCOS

Quase dois quilos pesam os "1001 discos para ouvir antes de morrer (Sextante, R$ 45, em média)", lançado recentemente no Brasil do original inglês 1001 Albums You Must Hear Before Die. Robert Dimery e Michael Lydon são os coordenadores editoriais deste compêndio de 950 páginas. Dimery colabora com as revistas Time Out e Vogue e escreveu The Rise And Fall Of The Stone Roses. Lydon é um dos fundadores da Rolling Stone e biografou a vida de John Lennon.
Para definir a lista dos 1001 discos, Dimery mobilizou 90 jornalistas e críticos de música de todo o mundo. A lista não é imaculada (e qual é?), mas o livro fica além de simples inventário de música pop. Seria melhor classificado como uma excursão cronológica pela história da indústria fonográfica. Passeio que parte do álbum In The Wee Small Hours (1955), de Frank Sinatra, e vai até Get Behind me Satan (2005), do White Stripes.
Fora a variedade das informações, cada álbum foi contextualizado historicamente com detalhes sobre produção, design e lista de canções. Só as imagens das mais de 900 capas, artistas e bandas valem a aquisição. A única coisa duvidosa foi a escolha de Syd Vicious para ilustrar a capa da edição brasileira. Nos tempos de Never Mind the Bollocks, único disco dos Sex Pistols que aparece no livro, Syd nem era da banda.
O grande gênero privilegiado é o rock, mas todos os estilos estão lá: soul, dance, world music, hip-hop, rap, jazz, bossa nova, eletrônica, blues, punk, heavy metal, disco, experimentalismo. Para o Brasil, a lista reforça o quanto a música nacional ganhou reconhecimento planetário de anos pra cá. São destacados cerca de 20 discos famosos da MPB.
Entre eles: Francis Albert Sinatra & Tom Jobim (1967), Stan Getz e João Gilberto (Getz Gilberto - 1963), Astrud Gilberto (Beach Samba – 1967), Mutantes (Os Mutantes - 1968), Caetano Veloso (Caetano Veloso - 1968), Milton Nascimento e Lô Borges (Clube da Esquina – 1972), Jorge Ben (Africa/Brasi - 1976), Elis Regina (Vento de Maio - 1978), Sepultura (Arise – 1991/ Roots – 1996) e Bebel Gilberto (Tanto Tempo - 2000).
O livro também apresenta as obviedades de sempre: What's Going On, de Marvin Gaye, The Rise And Fall Of Ziggy Stardust, do Bowie e London Calling, do The Clash, são tão previsíveis quanto uma nova tour do Deep Purple no ano que vem. O equilíbrio é possível pela inclusão de estranhices como Einstürzende Neubauten e Aphex Twin. O Radiohead é o grande excesso. Todos os álbuns da banda foram comentados - faltou apenas falar de Pablo Honey, mas isso seria demais da conta. Britney Spears e Mariah Carey são bobagens inevitáveis.
Os textos são bem escritos (a edição brasileira pecou na tradução ao errar o sexo de alguns artistas) e envolventes e, com a leitura, mesmo bandas aborrecidas como Dire Straits e Boston se tornam mais ou menos atraentes. A cada folheada, o impulso de sair correndo pro eMule e baixar o livro página por página. Uma obra para atiçar os neófitos e estimular a curiosidade dos colecionadores de rock.
Go Girl Crazy! (1975) - Dictators
Em 1975, dois rapazes norte-americanos, Legs McNeil e John Holmstrom, gastaram a maior parte do seu verão ouvindo o álbum Go Girl Crazy!, dos Dictators. Embebedavam-se todas as noites e acabavam aos gritos cantando cada uma das canções do disco. Não muito tempo depois, estes dois rapazes foram os fundadores da revista Punk, uma das bíblias desse movimento anárquico que eclodiu nos últimos anos da década de setenta. Tal como os New York Dolls, os The Dictators eram precedentes do punk. Anos antes de se ouvir falar dos Ramones, Dead Boys e dos Sex Pistols, Dick Manitoba, a "arma secreta" dos The Dictators, já cantava sobre vomitar comida no McDonalds, beber cerveja e assistir a filmes duvidosos de série B. Go Girl Crazy! foi um dos primeiros discos punk, muito antes de se ouvir falar dessa definição. Mas oferecia muito mais: sons de garage surf e heavy metal – o guitarrista Ross "The Boss" Funichello fundou muito mais tarde os Manowar. Os The Dictators conseguiram inúmeros admiradores, em parte graças ao sentido de humor da banda. O disco incluía todos os ingredientes para ser um êxito, mas os acontecimentos tomaram um rumo infeliz. Pouco tempo depois do lançamento do álbum a Epic despediu-os: má gerência, turnês mal planejadas e brigas entre os membros da banda não ajudaram. O álbum não atraiu grande interesse até 1977, momento em que bandas como os Ramones tinham já polido a sua própria marca punk. Os Dictators foram marginalizados. No entanto, Go Girl Crazy! chegou primeiro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

sOUNDTRACK dE uMA gERAÇÃO*


Por Cristiano Bastos
Não parece, mas trinta velinhas já foram assopradas desde que, nos remotos 1977, o punk partiu o rock ao meio. Nem por isso o grande documentário da época, Punk Rock Movie, tem qualquer edição comemorativa prevista no Brasil.

Tudo bem - para isso existe o Google Video. Lá o filme pode ser assistido na íntegra. Registrado em Super8 por Don Letts (diretor de The Clash: Westway to the World, entre outros), Punk Rock Movie - ao lado de Rude Boy, do The Clash, e The Great Rock'n'Roll Swindle, dos Sex Pistols - é fundamental para entender o fenômeno que tomou conta da Inglaterra nos anos 1970.

Genuinamente tosca, a câmera de Letts captura apresentações vibrantes do Clash, Pistols, Wayne County & the Electric Chairs, Generation X, Slaughter and the Dogs, The Slits, Siouxsie & the Banshees, Subway Sect, X-Ray Spex, Alternative TV e The Heartbreakers.

Com tantos tipinhos esquisitos circulando nos bastidores dos shows, o jovem, mas sempre feio, Shane MacGowan, dos The Pogues, quase não mete medo.

A apresentação dos Pistols é histórica: marca a estréia do "baixista" Syd Vicious, a mais nova contratação do big boss Malcom McLaren.

Os novaiorquinos dos Heartbreakers sobem ao palco e uma legião calçando botas Doc Martins pogueia feliz da vida no Roxy Club - enquanto Johnny Thunders, como alguém disse, "toca sua guitarra como quem solta cusparadas".

*Revista Bizz

terça-feira, 16 de outubro de 2007

o gRANDE sONHO dO cÉU

Existe uma grande vantagem quando se compra livros em hipermercados: o etiquetador de preços – sorte nossa – não tem noção alguma do valor verdadeiro de certos títulos. E não tem mesmo. A impressão é que está se livrando dos livros como se livra de carregamentos de lingüiça calabresa com data de validade expirada.
A mais-valia praticada nas livrarias de supermercados (coisa um tanto pós-moderna) é tão pragmática quanto "a resposta" que o leitor do gênero auto-ajuda aguarda na próxima página. Se está faltando alguma coisa na despensa da sua vida, simples, você vai ao mercado, como de costume, e lá pode escolher entre os mais sortidos modelos de bengalas encadernadas disponíveis no varejão editorial. Se sempre há um problema, o livro com a sua solução já foi lançado - nem que seja para resolver o problema do bolso do PHD espertalhão que o escreveu.

Foi assim que, na noite do domingo, fiz algumas aquisições num hipermercado da capital federal por deliciosos e confortáveis dez reais. Na hora de pagar, o caixa do supermercado me veio com a seguinte observação: “É raro alguém comprar livros de ficção. O pessoal só quer saber de auto-ajuda”. Detritos como o Monge e o Executivo, O Poder da Paciência e, no topo das listas, o best-seller dos volúveis, O Segredo. Calafrios...Como me disse sabiamente uma nova amiga, “a boa literatura de ficção é a única e verdadeira auto-ajuda”. Não sei se fiquei mais pasmo com a observação do caixa ou com a arrepiante visão na gôndola dos livros: “100 Clássicos da Auto-Ajuda”.
Em meio ao entulho editorial, encontrei duas jóias. O relançamento da literatura cut-up de Almoço Nu (Ediouro), de William Burroughs, com a adição de trechos e fragmentos dos originais do escritor datilografados, e O Grande Sonho do Céu (Editora Arx), do escritor, ator e roteirista Sam Shepard. Quem já se deparou com os escritos de Shepard, como Cruzando o Paraíso (Mandarin), sabe o quão gratificante é a leitura de um dos seus livros. Literatura cheia de predicados que prima por concisão, simplicidade e sintaxe despojada.
O Grande Sonho do Céu reúne 18 contos, oscilantes entre a calamidade humana e a redenção individual. Impossível não ser cooptado ao sentimento de amor que Shepard dedica à solidão e – como sempre – aos cenários desolados do interior dos Estados Unidos. No conto Vivendo o Cartaz, o homem induz um jovem balconista a refletir sobre a existência a partir da visão de uma mensagem manuscrita, dependurada num gordurento restaurante de beira de estrada. Absurdo filosófico-prosaico, verdade, que não serve para apaziguar as lamentações das almas afoitas em torno dos manuais de autocomiseração soltos à venda por aí.
Vencedor do Pulitzer, além de escritor Sam Shepard é um desses grandes atores, de maravilhosa plástica e atuações salvadoras - até dos piores filmes. No cinema, seu grande feito é o roteiro de Paris, Texas, do diretor alemão Win Wenders, laureado com a Palma de Ouro em Cannes.
Um excerto de Sam Shepard em Crônicas de Motel, escrito em um dos moquifos que o autor habitou à beira das estradas:
Sentia um parentesco menos com a música do que com a voz da rádio. A sua qualidade sintética. A sua voz única, distinta das vozes que a atravessam. A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância. Dormia com o rádio. Falava para o rádio. Discordava do rádio. Acreditava numa Terra Longínqua do Rádio. Como achava que nunca encontraria esta terra, reconciliou-se consigo mesmo limitando-se a ouvir rádio. Acreditava que tinha sido banido da Terra do Rádio e condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras, ansiando por um posto mágico que o devolvesse à sua herança há muito perdida.
22/12/79 Homestead Valley, California.

domingo, 14 de outubro de 2007

fLUXUS

Quando John Lennon conheceu Yoko Ono, em 1966, ela já era uma conceituada artista Fluxus, o grupo vanguardista criado por Geoge Maciunas com idéias do compositor John Cage, em Nova York. O beatle foi ver a exposição de Yoko, Ceiling Painting (instalação na qual uma escada conduzia o observador até um vidro no teto onde uma lupa ampliava a pequena inscrição: "Yes!"), e ficou encantado com a obra da futura esposa. A rigor, o começo do fim dos Beatles foi tudo culpa do Fluxus...
Se o Fluxus fez o favor de enterrar os Beatles (pois já era hora de alguém pará-los), ao menos a natureza bizarra e destrutiva de certas atuações do grupo, como as chamadas Música de Ação, legaram algumas "lições simbólicas" para o rock. A performance fluxista Peça de Guitarra, do artista Robin Page, apresentada durante o Festival de Desajustes, foi uma das mais impactantes dessas atuações, como descreve Victor Musgrave no livro The Unknown Art Movement. A ação lembra a cena de Blow-Up - Depois Daquele Beijo, de Michelangelo Antonioni, em que Jeff Beck, irritado, arrebenta guitarra e amplificador numa espelunca perdida na Swinging London:
Vestido em um reluzente capacete prateado e segurando sua guitarra pronta para tocar, Robin esperou alguns minutos antes de jogá-la no palco violentamente e chutá-la na direção do público, pelo corredor e escada abaixo, até sair na rua Dover. O efeito foi dramático, os espectadores levantaram-se e correram atrás dele enquanto ele dava voltas no quarteirão chutando o que ainda sobrava da guitarra.
O guitarrista do Who, Pete Towshend, transformou a destruição da guitarra em uma poderosa alegoria para os hippies, em Woodstock, e um emblema ainda mais legítimo para os punks da década seguinte. O registro perfeito é a imagem congelada de Paul Simonon, do Clash, na cultuada capa do álbum-testamento London Calling. A fotógrafa Pennie Smith - em momento de sublime felicidade fotográfica - captura o exato momento em que o baixista imola seu instrumento num show nos Estados Unidos por causa da qualidade péssima do equipamento.
Os fluxistas foram longe demais e perderam-se na loucura das excentricidades performáticas. O cúmulo foi a Missa-Fluxus, deturpação até mesmo para os pioneiros fluxistas. O inglês Stewart Home, autor de Assalto à Cultura - utopia, subversão e guerrilha na antiarte do século XX (Conrad Livros), traz um relato sobre a bizarra liturgia.
Na cerimônia, com liturgia semelhante à católica, os coroinhas trajavam fantasias de gorila, o vinho sacramental era mantido num tanque e derramado por uma mangueira, as hóstias eram biscoitos azuis recheados de laxante e o pão era consagrado por uma pomba mecânica que cagava sobre ele. O ritual tinha prosseguimento com o sacrifício de um Super-Homem inflável abarrotado de vinho; tudo acompanhado intermitentemente pela sucessão de uma sonoplastia previamente gravada com sons desconexos como o latir de cães raivosos, assobios de locomotivas, o piar de passarinhos e o estopim de tiros. De forma semelhante, existiam bizarrices como os Esportes-Fluxus, o Casamento-Fluxus, o Divórcio-Fluxus e até o Funeral-Fluxus.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

sOMEBODY tO lOVE

Cena esquizofrênica do recente clássico de Terry Gillian, Fear and Loathing Las Vegas: esparramado na banheira, o narcotizado advogado Dr. Gonzo (Benício Del Toro) implora para que Raoul Duke (Johnny Depp) arremesse o toca-fitas na água quando a canção que ringia dos alto-falantes atingisse o seu clímax.
A voz feminina é imperativa: "Feed your Head! Feed your Head! – estrofes finais de "White Rabbit", música banida das rádios em 1967 pela apologia que faz as viagens alucinógenas. A voz retumbante que emposta candura & potência para cantar as aventuras de Alice in Wonderland depois de lanchar alguns cogumelos psicodélicos é de Grace Slick - a um só tempo a bela, talentosa e posicionada vocalista do Jefferson Airplaine (na célebre foto).
Em "White Rabbit", espécie de Bolero de Ravel embalado numa canção de ninar com movimentos circulares que virou um dos hinos da head music, Grace pincelou tonalidades ainda mais dietilamídicas a já lisérgica obra de Lewis Carrol. Ela também escreveu "Somebody to Love", peça sonora não menos simbólica do período. As duas músicas estão no álbum fundamental do Airplaine, Surrealistic Pillow, que marca o debut de Slick nos vocais da banda.
Musa do acid rock de San Francisco, Grace Slick não foi a única fêmea talentosa da cena do rock psicodélico que prevalecia na Califórnia – e no mundo – no auge do Summer of Love. Mama Cass e Michelle Phillips (dos Mamas & The Papas), Nico e Janis Joplin eram grandes vozes, só que nenhuma delas juntava, como Grace, uma beleza intraduzível, habilidade nata para song writter e domínio sobre a complicada matemática construtora de canções lindamente pop.
O jornalista gonzo Hunter Thompson sempre assumiu seu fetiche por Grace Slick. Cansou de afirmar que música - além das drogas - sempre fora um "combustível" para ele:
"Pessoas sentimentais chamam isso de inspiração, mas o que elas realmente querem dizer é combustível. Isso acontece de novo, e de novo, e cedo ou tarde você é fisgado, e fica viciado. Toda vez que ouço 'White Rabbit', estou de volta à meia-noite viscosa de San Francisco, procurando por música, dirigindo uma motocicleta vermelha veloz ladeira abaixo em direção ao Presidio, me curvando desesperadamente nas curvas através dos eucaliptos, tentando chegar ao Matrix a tempo de ouvir Grace Slick tocar sua flauta".
No rock dos anos 70 e 80, é clara a linha condutora que parte do estilo vocal de Grace Slick e atinge outras roqueiras: da chata (pra burro) Alanis Morrisete à chata (pra caralho) Dolores O'Riordan, da poetisa punk Patty Smith à runaway Joan Jett, todas reverenciaram – da melhor à pior forma – sua força vocal. Alcoólatra, vegetariana e defensora dos animais, com o fim do Jefferson Airplaine Grace Slick encarou a insipidez do Jefferson Starship, um Airplaine diluído numa receita enjoada de hard rock ufológico, teclados e sintetizadores. E, por fim, o que restara do Jefferson Airplaine original reduziu-se à corruptela Starship e seu rock inofensivo, perfeito para rodar no easy listining boco-moco das rádios adultas.
A beleza de Grace Slick arrebatou muitos corações. Apaixonado, o cantor folk Country Joe McDonald compôs a balada "Grace" em seu louvor. Jim Morrison teve um rápido affair com ela encharcado em bourbon. Em 1998, Grace confessou que, de todas as pessoas com quem sempre desejara ter um caso amoroso, só faltaram duas: o guitarrista Jimi Hendrix e o ator inglês Peter O'Toole.
Em 1994, após reclamação da vizinhança, um policial vai até a casa de Grace Slick, em Tiburon, Califórnia, para ver o que estava acontecendo. É surpreendido pela cantora completamente embriagada e por uma arma carregada apontada para ele. Sua sentença foram 200 horas de prestação de serviços comunitários, além de ser obrigada a comparecer aos Alcoólicos Anônimos por três meses. Hoje, a amadurecida Grace Slick jura que sua garganta está longe da bebida. O fabuloso canto de antes, porém, não se fez mais ouvir como naqueles dias em que a vida era onírica e as cores vibravam intensamente.

oS tRAFIS de sATANÁS

A banda platina Satan Dealers toca um vigoroso garage rock baseado nas bandas proto-punk dos anos 70. Em julho, se apresentaram no festival Porão do Rock, em Brasília, e tocaram em algumas cidades brasileiras.
De volta à Argentina, a banda está em estúdio produzindo o seu primeiro disco em castelhano, sucessor do álbum The Brightest View (Scatter Records), que no Brasil é distribuído pela Tratore.

O vocalista Adrián Outeda (a frente na foto) conversou sobre a origem do nome Satan Dealers, a cena independente argentina e a intolerância clássica - no futebol - entre brasileiros e portenhos.

Conte maiores detalhes de como é "negociar" para Satã. Dá lucro?
Outeda - Lucro certamente não dá. A gente faz esse trabalho sujo porque gostamos mesmo (risos). É apenas um jogo entre duas palavras que representa o lado escuro da vida de qualquer um. Na verdade, originalmente o nome Satan Dealers foi pensado com a palavra "same" no meio. Assim, ficaria Satan Same Dealers. No álbum Brightest View, fizemos essa brincadeira na contracapa: "Satan = Dealers".
Parece uma piada com os britânicos do Cosmic Dealer, que no álbum Crystalization (1971), foram considerados "traidores" da tradição psicodélico-garageiro e acusados de enfeitar tudo com firulas do rock progressivas...

Outeda - Nãoooo! Apenas gostamos de rock, garage, hardcore e, o tempo todo, estamos conhecendo bandas novas e deixando-se influenciar por algumas delas.
A conversa continua lá no site da Bizz. Aproveite e ouça a exclusiva "Bajo Esa Piel".

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

fLYNG bURRITO

Integrante dos Byrds e um dos fundadores do Flying Burrito Brothers, Gram Parsons é mais uma vítima da combinação genilidade + morte trágica. Parsons foi encontrado morto em setembro de 1973, no quarto de sua casa em Joshua Tree, na Califórnia. Diagnóstico: over de morfina aditivada por tequila em doses cavalares. Ele tinha apenas 26 anos de idade - um "gurizão".
Mesmo tão jovem, o cara é um dos preceptores do country rock e, antes de morrer, estava terminando seu segundo álbum-solo, o cultuado Grievous Angel. O fotógrafo Andee Nathanson - que clicou outros loucos insanos da época, como John Phillips, Alice Cooper e Frank Zappa - imortalizou centenas de registros de Gram Parsons. Algumas das belas imagens preto & branco de Nathanson podem ser apreciadas em Fine Art Photographs.
Outra exposição legal de se visitar, virtualmente, é a do fotógrafo Bobby Klein, que teve sob a sua mira Jimi Hendrix, Dennis Hopper e Janis Joplin. Essa é uma galeria sobre o The Doors pré-fama - do tempo em que Jim Morrison deixava de ser um vagabundo em Sunset Strip para personificar o sex symbol de sua geração e - pouco depois - viver o papel de maior bêbado do mundo.

zE

O texto é do Carlinhos Carneiro - A RevistaZE, fanzine megalomaníaco que existiu no planeta Terra no século passado, entre 1996 e 1999 - e foi um verdadeiro marco referencial para a criação alternativa gaúcha, brasileira, mundial e até inter-galaxial -, ainda festeja uma década de seu nascimento.
A volta da ZE, para o lançamento de uma edição extraordinária comemorativa e um site com todos os seus números em versão online (e outras tantas frescuras), significa um revival de todas emoções criadas pela revista na época, e uma forma de chamar a atenção de um novo público que, na boa, é carente de uma publicação com conteúdo editorial diferenciado, absurdo e criativo (como estavam todos os alterna-jovens do mundo até o finzinho de 96, quando ela surgiu).

Pra quem não conhece a história, é o seguinte: a RevistaZE (a propósito, lê-se "revista zê") foi concebida por um bando de (então) pós-adolescentes bêbados, famintos por esculhambação, antiarrrte e xis-bacon, que circulavam pelos corredores da Famecos (faculdade de comunicação da PUC de Porto Alegre) - mas desde o início foi encarada com muito empenho, pois eles sempre tiveram noção do valor de "vitrine para seus trabalhos" que o fanzine tinha (e vem daí a hiper-valorização dele, sempre considerado uma revista, por mais que sua realização, mesmo que cheia de primor, fosse artesanal como a de outros zines).
Com um design preza, HQ's e personagens minimalistas, textos absurdos, piadas internas transbordantes e cativantes, e um padrão de qualidade fora do normal, desde o seu número zero, rapidamente a ZE (lê-se zê) agitou Porto Alegre, que até então não tinha ninguém que desse uma cara "mais bem acabada" ao que acontecia no seu "lado alternativo", firmando-se no status de cult e referencial (mesmo que, para alguns, inconscientemente), para tudo que estava por vir na cidade.

A combinação "revistas lindas e loucas + festas de lançamento arrasadoras" fez com que todo mundo conhecesse e falasse bem da RevistaZE, esse falatório e algumas edições da revista chegaram a grandes meios de comunicação do país, que logo estavam dando espaço em suas editorias especializadas para falar dela, e assim espalhava-se o bafafá (principalmente entre comunicadores e universitários).
Passados dez anos, seus criadores e colaboradores cresceram profissionalmente e se espalharam mundo afora, além de terem terminado seus cursos de publicidade e jornalismo na Famecos: NIK (editor, designer e responsável pelos HQ's) - Ilustrador e desenhista, trabalha em importantes publicações como VIP, Playboy, Superinteressante, Rolling Stone Espanha; fez a capa dos discos de Bidê ou Balde (do colega Carlinhos) e MQN (de Goiânia) e de livros de Daniel Galera e Frank Jorge, entre outros.
Chaves (designer e editor) - Músico e compositor de música eletrônica, onde atende pela alcunha de CH5; designer gráfico do estúdio de criação Lava, responsável pelo projeto gráfico da revista VOID, entre outros, e pela capa do álbum "001", da Groove James - da qual também já foi integrante (junto com Nik e Chico).
Chico Berlota (editor e redator) - Músico e compositor, guitarrista das bandas Groove James e Borracharia; Personal Preza; jornalista, assessor de imprensa; produtor; Gerente de Engradados. Carlinhos Carneiro (editor e redator) - Vocalista e compositor da (banda de rock) Bidê ou Balde, modelo-ator, integrante do movimento arrivista Vive le Flesh Nouveau!, "rapaz gordo com um cabelo excêntrico", segundo o grande produtor do show business Manoel Poladian. Marcelo Benvenutti (colaborador) - Contador, publicitário e escritor, autor dos livros "Vidas Cegas" (Ed. Livros do Mal), "O Ovo Escocês" e "Manual do fantasma amador" (K edições) e "Livro da capa laranja" (Ed. Cafeína não é proibida).
Cristiano Bastos e Alisson Ávila (colaboradores) - Jornalistas, trabalham ou trabalharam para importantes publicações como as revistas Play, Aplauso, Bizz, Meio & Mensagem, entre outras, são autores do livro "Gauleses Irredutíveis - Causos e Atitudes do Rock Gaúcho", integrantes do movimento arrivista Vive le Flesh Nouveau!.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

lUSO-sTONER

Quão estranha deve ser uma banda portuguesa que tem seu parentesco musical registrado na genealogia distante do country e do folk rock norte-americano?

No caso da Born a Lion, natural de Marinha Grande (Portugal), o absurdo foi possível, ainda que o saque cultural que eles promovem, ao evocar lendas como Johnny Cash e Steppenwolf, seja explícito.

A paisagem de Marinha Grande, ao contrário da aridez desértica que inspira o som da Born a Lion, é de muita praia, sol e nem sinal de deserto a milhares de jardas marítimas. Pra confundir ainda mais, a cidade integra a região que forma o nicho do turismo devocional de Fátima, ponto de passagem de incontáveis fiéis que visitam a região em busca de um novo presságio católico - ou talvez um milagrezinho. Por outro lado, castelos e mosteiros medievais carregam nas tintas acinzentadas. Só pra completar, tem um brasileiro infiltrado na banda, o baterista Rodrigo Cassiano.
As influências da Born a Lion são tão vastas como as pradarias: Johnny Cash, Immortal Lee County Killers, Black Sabbath, Led Zeppelin, gospel, blues e, pra botar lenha na fogueira, Mooney Suzuki, Danko Jones e Jon Spencer Blues Explosion. Veja quem são e o que pensam esses caras nessa entrevista especial.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

fRUIT tREE

Marcado para 6 de novembro o relançamento do box-set Fruit Tree, de Nick Drake, com os seus únicos e maravilhosos álbuns: Five Leaves Left, Bryter Layter e Pink Moon.
A nova versão do box vem com um filme sobre a vida de Drake, A Skin Too Few, e um livro que traz análises de todas as músicas do compositor feitas por pessoas próximas a ele, como Joe Boyd (produtor), John Wood (engenheiro de som) e Robert Kirb (arranjador).
Entre as minhas canções prediletas de Nick Drake: "Poor Boy", "Hazey Jane I", "Way to Blue", "River Man" e "Saturday Sun". Pungência, elegância, claustrofobia, tristeza incurável, desespero & beleza absoluta...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

rOCK, mEDO & dELÍRIO II

A festa nunca termina no refúgio montanhesco do agente soviético Chico Daniel. Destacado pra negociar a vida de reféns russos sob a mira de baionetas japonesas na península de Assuwa, ao noroeste de Krakatoa, desde a Segunda Guerra Mundial, Chico empregou técnicas pavlovianas de persuasão - mas, tristemente, não conseguiu evitar o infortúnio dos camaradas Oleksandr Zavarov e Valeriy Lobanovs'ky, respectivamente, 102 e 109 anos nas paletas.
Antes que nosso agente pudesse dissuadir os japas, os pobres Zavarov e Lobanovs'ky bateram as botas. Há mais de 50 anos eram alimentados com ração à base de algas e caranguejos. Não há quem agüente...

Negociação do Chico com os japas:

- Pô, solta os caras, meu!

- 典及現代音樂並常 (Vai se f****!)

- Cara, tu não vê que os dois já tão um caco? A guerra acabou!

- 典及現代音樂並常設音... (O azar é deles...)

- Beleza.

Bom...Intrigas internacionais, tragédias humanas e política à parte, Chico liberou sua casa para a segunda edição da festa "Rock, Medo & Delírio na Montanha" - com o especial guest da Família Matusquela. Sandrinho de Tramanda, o surfista sem prancha do Planalto Central, recém-separado da estrela de SOS Malibu Pamela Anderson (eterna garota Tommy Lee), também voltou. A Manoela Frade, essa misteriosa imigrante húngara do Ducado de Oberschlesien, continua sendo a hostess da festa. Ela está mais adorável do que nunca!

O mesmo esquema de sempre: apenas R$ 10,00 - mas leve sua bebidinha predileta para inflar a imensa piscina de gelo montada no pátio da mansão. Energias e fluidos vitais serão recompostos por afrodisíacos caldos. Traga novamente as suas fantasias (e muitas outras, se quiser).

Discotecagem: Cristiano Bastos. DJ convidada: Marta Crioula.

Vamos lá, de novo: Não perca mais essa oportunidade de se divertir e ser feliz!

DEPOIMENTOS
Baby Consuelo: "Galera, não vai rolar de ir na festa, mas vou mandar Sarah Sheeva, Zabelê, Nana Shara e Pedro Baby no meu lugar, ok? Beijos de luz!"
Miyamoto Musashi: "Adolo loque'n'loll. A festa Medo & Delílio é pelfeita pla moler na pista. Na última me divelti pla calamba e dancei pla calalho"
Pepeu Gomes: "RÁ!"
Cicciolina: "Só os gatinhos..."
Embaixada da Rússia: "Zavarov e Lobanovs'ky deram suas vidas pela Rússia".
Mickey Rourke: "Só as gatinhas..."
Erasmo Carlos: "Festa de arromba. Só o pessoalzinho papo firme. Uma brasa, mora!"
Serguei: "É uma pena que a Janis não esteja mais aqui. Ela ia adorar!"
Menino do Rio: "Pô, parceiro...se não for é burro. Só as gatinhaschass"
Woody Allen: "As pessoas boas dormem muito melhor à noite do que as pessoas más. Claro, durante a noite as pessoas más se divertem muito mais"
Oscar Wilde: "A única coisa necessária é o supérfluo"
Frase ouvida por alguém na última festa: "Sinto peitos em meus cotovelos!"

Who's Next?