quinta-feira, 12 de julho de 2007

dEAD bOYS aTROPELADOS pELO tEMPO


Young, Loud and Snotty
Dead Boys

Lançado pela Sire em 1977 e relançado, em CD, pela Warner Bros em 1992. Inédito no Brasil.
Baixe: "I Need Lunch"

Se ainda restar uma única centelha punk flamejando no dia em que as profecias sobre o fim do rock se cumprirem, Young, Loud and Snotty não será olvidado em meio aos destroços. Nem mesmo o descaso da Sire Records, cujo desinteresse pelo álbum praticamente o levou à proscrição do seu catálago, consegue abafar esse testamento de alta periculosidade sonora deixado pelos Dead Boys. Lançado no levante de 1977, o àlbum marca a estréia fonográfica da banda que, na verdade, era considerada intrusa na cena punk. Com agravante de não serem de Nova York, Londres ou, tampouco, Detroit. A célula da banda – Stiv Bators (vocais), Cheetah Chrome (guitarra) e Johnny Blitz (bateria) – vinha de Cleveland, no interior dos EUA, onde já horrorizavam com as bandas Frankstein e Rocket From The Tombs.
Sobreviveram à pecha de punks caipiras e foram anunciados com um surrado clichê: "a resposta americana aos Sex Pistols". Young, Loud and Snotty soa como uma metralhadora carregada de projéteis mortíferos. Logo de cara, "Sonic Reducer" festeja a juvenilidade exorcitando microfonias. "Ain't Nothin to Do", "All This and More" e "Down in Flames", alguns dos impiedosos murros desferidos nos 28 minutos do disco, prescrevem o receituário da banda: substâncias químicas, letras arrogantes e riffs durões. Estilhaços do estrago causado voaram longe – em Seattle, acertaram o Green River (núcleo do Mudhoney) e, no Brasil, botaram os Forgotten Boys no mau caminho.
A festa acabou em 1979. Bators montou o The Lords of the New Church, mas sucumbiu à exacerbação gótica, enquanto Chrome se deu mal com o Ghetto Boys. Em 1990, Stiv Bators é atropelado por um motorista bêbado na França. Examinado, os médicos lhe deram alta (depois se descobriu que ele tivera um coágulo no cérebro). Foi pro hotel e adormeceu despreocupado, como um autêntico garoto morto.
Nazismo lúdico
Niilistas, os Dead Boys tinham prazer em chocar a todos com suásticas nazistas. São famosas as fotos da suástica que o guitarrista Jimmy Zero esculpiu na púbis da groupie Eileen Polk. Eles também adoravam polemizar com Genya Ravan, judia e produtora do álbum Young, Loud and Snotty.

Qualuuds
Bators não segurou a onda ao topar o seu herói, Iggy Pop, em uma espelucunca de Nova York. Pancadão de qualuuds, apagou com a cara enfiada em uma tigela de sopa. Uma das suas glórias pessoais foi "ser o cara que alcançou o pote de manteiga de amendoim para Iggy" se bezuntar durante a histórica performance de "I Feel Alright", na qual o iguana põe-se de pé, soberano, sobre o público de Cincinatti, em 1970.

É, nada fácil...
"Alguém me disse pra ir no CBGB's pra ver a melhor banda do mundo, os Dead Boys. Então fui lá uma noite quando eles estavam tocando, entro e a primeira coisa que vejo é Stiv Bators sendo chupado no palco por uma garçonete. A primeiríssima coisa". (Bebe Buell, groupie e mãe de Lyv Tyler)

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Máquina do tempo: Junho de 1970

Sexo, drogas e peitos à revelia

Marco do soft-porn-kitsh, Beyond the Valley of the Dolls
está anos-luz da monotonia da indústria pornográfica

Rever o cult-movie Beyond the Valley of the Dolls (Além do Vale das Bonecas) é bom para sacar que, em tempos de liberação geral, o gênero erótico deu uma constrangedora brochada. Dirigido pelo lascivo Russ Meyer – que tem na filmografia clássicos under como Faster Pussycat!, Kill! Kill! e Mudhoney (Mark Arm não nega a fonte das suas poluções noturnas...) – Beyond... ostenta a insígnea camp que fascinou roqueiros delinqüentes como os New York Dolls, cujo pendor à estética depravada louva a produção de junho de 1970. O filme conta as libertinas aventuras da banda de rock The Carrie Nations, um protótipo riot grrrl teleguiado por garotas gostosas e safadas em colisão rumo ao estrelato.
Bem trashona em algumas ocasiões e deliciosa, em outras, a trilha sonora foi hit na época: o tema "In the Long Run" escalou o topo da parada norte-americana; e a banda Strawberry Alarm Clock (que participa do filme cantando a pop-psicodélica "Incense & Peppermints" numa festinha de embalo) chegou à primeira colocação nos EUA. Na verdade, Beyond the Valley of the Dolls é um pastiche satírico do romance O Vale das Bonecas, de Jacqueline Suzan – um libelo sobre modernização feminina, decepções amorosas e ingestão desumana de barbitúricos. Meyer, que lançou a categoria sexplotation, verteu o best-seller de Suzan num extravagante enredo sobre rock, drogas, orgias psicodélicas e mamilos em profusão.
Em 2001, o jornal Village Voice colocou Beyond the Valley of the Dolls na 87º posição de uma lista que elegeu as grandes filmagens do século. Sem noção? No ano passado, o filme saiu pela primeira vez em DVD, com extras e entrevistas. Veja com seus próprios olhos.

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